Tive a sorte de começar na poesia com poetas que me ensinaram a coisa mais importante de um texto: o corte. Cortar palavras, tirar o excesso, escrever versos breves foram as lições que aprendi com poetas como Manoel de Barros, Mario Quintana e Adélia Prado.
Antes de tudo, síntese não tem a ver com texto curto, mas com texto enxuto. Um romance, que é uma narrativa longa, também precisa ter um bom trabalho de síntese. Na medida do possível, precisa ser breve.
A síntese é a capacidade do autor ou autora de utilizar somente o necessário no texto para mandar um recado. Por isso, escrever e reescrever bastante é uma atividade rotineira na vida dos grandes escritores.
Eu adoro a síntese. É meu elemento principal quando escrevo. Por isso, ao contrário do que muitas pessoas imaginam sobre minha escrita, escrevo muito, para ter o que cortar depois. E tenho ansiedades pela parte final do meu trabalho: a revisão.
Quando estou a terminar um texto, é quando inicio minha outra jornada, a de cortar as palavras. Corto tudo que posso, tiro os excessos, substituo palavras até encontrar o tesouro do meu texto. Muitas vezes, a própria ideia original se modifica, muda de tema, e se torna até melhor com o processo de corte de palavras.
A síntese é poderosa para qualquer tipo de escrita. Nos poemas, por exemplo, é ela que nos deixa "pensando". Não dizer tudo na poesia é uma ferramenta surpreendente para deixar o leitor pensar mais. Não dizer tudo é generoso.
Eu adoro a síntese. Hoje percebo que ela está presente em todos os meus materiais, da prosa ao verso. É uma busca constante, das poucas palavras que serão capazes de reverberar e dizer mais do que elas mesmas. É um jogo divertido tentar escrever assim, com a menor quantidade possível de palavras.
Experimente. Coloque na sua rotina da escrita uns minutinhos finais para cortar palavras. No começo, parece difícil tirar palavras do próprio texto. Mas com o resultado, com o texto melhorado, apostaria que você também vai gostar e se divertir com a síntese.
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