Eu já estava no fim do Caminho, na última curva, quando conheci Mary. Foi no último dia da caminhada portuguesa, na que eu tinha prometido para eu mesmo não conhecer ninguém, não me abrir, não abraçar, não me envolver com ninguém. Na minha terceira vez, de outras vezes cruzando com dez vezes dez peregrinos, eu queria ir e voltar sozinho, vazio, como se eu nem tivesse ido. Foi no último dia que conheci a Mary triste. Mais triste que a Meryl Streep no seu filme mais triste. Foi nessa curva, da tristeza, que eu perguntei por quê? E a gente conversou, e combinou de tomar um vinho junto mais tarde, e a gente tomou o vinho junto numa tarde longa, uma garrafa e meia, e à noite inteira a gente esbarrou nossas pernas por debaixo da mesa enquanto bebia vinho na taça trocada do outro e não via. Foi numa mesa de bar com novos amigos alegres que foram chegando, novos amigos cansados, novos amigos tristes, como a Mary triste, que a gente fez a curva e foi embora. E eu, que queria voltar sozinho, fracassei no plano andando tonto pelas ruas com você. Foi na última noite, na última curva, no instante em que eu deveria voltar sozinho, no instante em que eu deveria me despedir triste de você, que a gente se abraçou pelas cinturas e se despediu abraçando as costas do outro, depois beijando o pescoço do outro, depois a boca do outro, e de vez em quando invertendo a posição para que o outro escorasse suas costas no muro da última curva do Caminho. Foi na última curva do Caminho, minutos antes de eu voltar sozinho, que eu não voltei.
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