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Lucão

A vitória do banal sobre o fantástico


É um erro muito comum tentar escrever uma história e se perder em muitos assuntos. Isso acontece bastante na crônica, principalmente quando não se conhece uma das características mais poderosas do gênero: contar uma história por vez.


Começamos a escrever e de repente nos vemos querendo explicar tudo, falar de todos, não deixar escapar nada, descrever os vários detalhes dos acontecimentos. Mas o charme da crônica está justamente no contrário disso: escrever sobre um só detalhe. É uma história por vez.


Por isso brinco que a crônica é a vitória do banal sobre o fantástico. Nos preocupamos em tentar encontrar uma história fantástica quando escrevemos, e não percebemos as histórias banais que dariam histórias ainda mais fantásticas. A crônica é a vitória de uma história muito simples diante do desejo de escrever algo "superior".


Quando acordei com preguiça de trabalhar, escrevi uma crônica homenageando a preguiça que eu sentia naquele dia. E é uma das crônicas mais divertidas que já escrevi, pois tem graça, mas também tem esse olhar sobre um detalhe só, a minha preguiça naquele dia. Ponto.

Outra vez escrevi sobre o pé de morango da casa da minha avó Jovita. E fiquei nesse pezinho, fazendo elocubrações sobre a felicidade. Quando eu estava na Espanha, pronto para começar minha segunda jornada pelo Caminho de Compostela, sonhei que subia um morro do caminho carregando uma baleia nas costas. A crônica "A noite das baleias" é sobre esse sonho e sobre o medo que eu sentia de subir o morro do Pirineus, na França.

"A vitória do banal sobre o fantástico" é uma provocação para que procuremos nos nossos dias as pequenas histórias que dariam grandes histórias. Quando descobrimos essas pérolas e as lapidamos para transformá-las em histórias maiores, também aprendemos que inspiração é uma fonte infinita. Dá para se inspirar com tudo — ou quase.


Claro! Dá trabalho escrever bem, não há mágica nem fórmula para escrever bons textos. O que há é um exercício contínuo de sensibilização, aliado ao desenvolvimento dos recursos da palavra, do estilo, da língua. Essa é uma fórmula "mágica" da boa escrita. Desenvolver-se sempre.

Mas comece prestando atenção nas histórias banais. Não tenho dúvidas que é nesse lugar que estão as histórias fantásticas.


— O curso "Crônicas e Memórias" que darei com a amiga escritora Ana Holanda é sobre isso, empoderar as histórias banais para escrever crônicas. Venha aprender com a gente. Clica aqui para saber mais.

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