Essa semana fiquei curioso. Sei que muitas invenções existem porque em algum momento elas precisaram ser inventadas: a geladeira, quando a coisa esquentou; a máquina de barbear quando a coisa enroscou; a máquina de lavar pratos, quando a coisa, o homem, teve que ir para a pia porque a mulher se tocou que a “coisa” estava muito folgada. São invenções muito fáceis de entender porque foram inventadas: para salvar a espécie. O tênis, o avião, o relógio, o telefone, são todas invenções que resolvem problemas enormes.
Mas, de repente, fiquei curioso com outra invenção, um pouco mais difícil de entender o motivo da sua existência: o beijo. Quem foi o gênio que, em algum momento, gritou “eureka!” (depois do beijo, é claro) ao descobrir que duas bocas ocupam o mesmo lugar no espaço — não sou físico, sou poeta.
Os mais antigos registros do beijo indicam que a invenção é dos Hindus, em 1200 a.C.. No livro védico Satapatha (textos sagrados em que se baseia o bramanismo), o beijo está descrito assim: “Amo beber o vapor dos seus lábios”. O que me deixa mais boquiaberto nesses escritos é como o beijo foi dado duas vezes: um, nas bocas que se tocaram (o beijo); outro, no beijo que as próprias palavras se deram para que o verso ficasse tão assanhado de bom. A poesia é o beijo que as palavras se dão.
Há outro registro, de 1000 a.C., em Mahabarata (poema épico com mais de 200 mil versos) que descreve o beijo assim: “Pôs a sua boca em minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer”. Não tão poético quanto o primeiro, mas bem explícito de que as pessoas dessa época já se beijavam com satisfação.
Eu acho o beijo uma das invenções mais fundamentais da humanidade, principalmente para o funcionamento do corpo, da pele, dos órgãos internos, da barriga… No primeiro beijo, o beijo mais atrapalhado, todo o corpo se mexe. Primeiro, o suor, que começa onde no futuro vai nascer o bigode e se propaga por todo o corpo, testa, costas, axilas… nenhum pouco sensual. Depois você treme, doi a barriga, a cabeça, as pernas, até que o beijo acontece e tudo passa tão rápido quanto o beijo. No pós-primeiro-beijo, o que doi mais é a saudade… e a família toda sofre porque você não consegue contar o que é e todo mundo pensa no pior.
Quando digo que gosto de beijo, digo por quase todos. Não há uma pessoa no mundo que eu tenha sabido que não gosta de beijo. Falando em gosto, quando o beijo foi inventado, ele tinha gosto de que, já que a escova e a pasta de dente ainda não existiam?
E são vários os tipos de beijo. A bitoca é o beijo mais rápido. É a prova de 100m do atletismo, só que todo mundo ganha quando corre e beija. Também é o mais democrático. Beijam homens, mulheres, crianças e velhinhos. Tem o beijo de esquimó, que é o beijo de nariz. E tem os beijos mais sensuais, que pelo horário é melhor não descrever.
Mas o beijo mais bonito, o que mais gosto, o que eu mais pratico é o beijo que o poeta dá na solidão. Ficar só, paquerar as palavras, fazer com que elas se gostem, se namorem e troquem carinhos, esse beijo ele se chama Poesia. Desse beijo eu sou beijoqueiro.
“Não há coisa melhor do que beijo. E se coisa melhor do que beijo tiver, que essa coisa me beije”.
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