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Lucão

"Cadê você aqui?""


Quando meu professor de redação do cursinho — meu mestre Paulo Roberto — leu meu texto e me perguntou: “Cadê você aqui?”, comecei a entender o que era escrever.


Aquilo que ele me disse na sala de aula, lá pelo começo do século, reverbera em cada texto que escrevo hoje. Cadê minhas palavras? Cadê meus sentimentos? Cadê minha família, meus pais, meus irmãos? E minhas saudades, minhas raivas, meus gostos e desgostos, cadê?


Hoje isso tem um efeito poderoso no que escrevo e ainda pretendo escrever. Não há uma palavra em vão — mesmo que não sejam bonitas, mesmo que não deem um show, elas estão no texto. Isso porque entendi que o que é mais valioso para a escrita é o que só eu posso dizer. E o que só eu posso dizer está grudado nessas palavras que só eu carrego.


Tem um detalhe que a gente não aprende: é mais fácil escrever assim do que inventar, pois o texto já está em nós, no passado, na infância e também no presente.


Então escrever é isso? Não é só isso. Escrever é muita coisa. Mas aprender a escrever sobre si, com suas próprias palavras, é um passo poderoso demais para ser evitado por quem quer escrever melhor.


Depois disso, rabiscar sobre os outros, inventar histórias ou criar fantasias fica mais simples. Mas também confesso: fica menos prazeroso. Tenho tanta coisa para contar, para dividir e até inventar sobre o que eu mesmo já vivi, que sinto que não vai caber nessa vida o que ainda pretendo compartilhar.


Tenha coragem para escrever sobre as coisas que só você pode escrever. Não gostaria de terminar esse texto sobre escrita com uma frase motivacional para você escrever melhor. Mas é isso que desejo, que você escute o meu eterno mestre Paulo e coloque-se no papel.


Esse texto também é para o Paulo, para dizer que em todo texto que escrevo não há mais só a minha presença, mas também a de um mestre que me colocou aqui, entre as minhas palavras.


Escrevam-se! E contem comigo para seguir.

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