Outro dia, uma amiga me pediu a opinião sobre uma fala de um autor que afirmava que a poesia estava prestes a desaparecer. Me surpreendi, tanto pela perspectiva pessimista sobre a poesia, quanto por não conhecer o autor, que é um dos franceses mais lidos da atualidade, Michel Houellebecq. Fazendo uma busca rápida pela internet, descobri que, além de mais lido, Michel é também um dos mais controversos escritores contemporâneos. Sem ter noção da sua obra, muito menos do autor, uma coisa eu tenho certeza: ser controverso é bom para ser conhecido e, muitas vezes, para ser amado, mesmo que também odiado. Que diga o Donald Trump.
Mas o que será que existe por trás dessa perspectiva negativa da poesia? Numa pesquisa um pouco mais apurada, descubro que o Michel, além de romancista, também é poeta. E então fico na dúvida se o que ele disse sobre a poesia é mesmo uma tentativa de prever o futuro, ou se não é pura ironia. Das opções, fico com a ironia e explico porque a seguir.
Que a poesia não vai desaparecer porque já é da poesia ser um pouco desaparecida. Quem gosta de aparecer é o romance. Esse sim enche as livrarias, vende bilhões todos os anos no mundo todo, cria best-sellers atrás de best-sellers. A poesia, não. A poesia desde sempre tem esse jeitinho tímido, quer desaparecer. Essa é a sua essência, ser desconvencida.
Que poesia, e qualquer poesia que seja, não é grande coisa mesmo. Poesia sempre foi coisa pequena, descontroversa, não incomoda. É vazia, é vaga, filosófica e de botequim. Preenche o que aparentemente não precisa ser preenchido, mexe com os sentimentos que a gente não sabe que tem, conversa mais com a alma que com o corpo da gente. E como já dizia Manoel de Barros, poesia é nada: “Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.”.
Qualquer outra tentativa de fazer a poesia aparecer é história, romance. A grandeza da poesia está no seu modo sorrateiro. Quando a gente menos espera, a poesia surge como um herói e nos salva de nada.
Se a poesia tem um papel, é o de descompletar o homem… A poesia não foi feita para as pessoas serem mais felizes ou tristes, ou para dar respostas exatas sobre a existência humana, ou entender sentimentos significantes como o amor. Não. Mas ainda assim ela nos confunde quando brinca de redefiní-los: “Quando duas pessoas fazem amor, não estão apenas fazendo amor, estão dando corda ao relógio do mundo.” do poeta Mário Quintana.
Por isso, a poesia vai mesmo desaparecer. Porque é esse o seu destino, o seu papel, de sumir, perder significado, perder sua definição, para então ser o que quiser, estar onde lhe couber, liquidificar-se, diluir-se… E, nesse sentido, a poesia está tendo um sucesso tremendo, desocupando as poucas estantes que lhes deram para ocupar as ruas, as redes, camisetas, joias, paredes… É assim que a poesia está desaparecendo, surgindo.
“Se o amor é mesmo uma chama, então eu te chamo”.
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