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Lucão

Como transformar histórias comuns em literatura


Gosto de dizer que escrever literatura é fofocar.

Reparei que é por isso que a gente lê livros, para saber das histórias dos outros. Mesmo das histórias tristes, a gente lê para saber.

Como quem fofoca na porta de casa sobre a vida da vizinhança, é isto que quem escreve faz: fofoca. Quem escreve oferece uma história para o leitor. Mesmo que as histórias sejam as que aconteceram no peito, o que normalmente acontece na poesia, são todas fofocas.

Aí vim fofocar sobre os bastidores da crônica que publiquei no jornal neste último final de semana. A crônica sobre os meus cabelos...

Fiquei com ela na cabeça ao menos duas semanas antes de escrevê-la. Desde que sofri minha última baixa, quando meus fios foram embora de vez através das mãos afiadas do barbeiro da esquina, eu não parei de pensar nos meus fios.

Então fui escrever a história dos meus cabelos nestes últimos 4 anos da minha vida. Contei da pandemia, de quando tive que aprender a cortar os meus próprios pelos. Falei dos salões que passei para tentar deixar meus cabelos maiores. E fofoquei sobre os meus fracassos.

Quando terminei de escrever a história, deixei a crônica descansar. Fui dormir.

No outro dia, poucos minutos antes de enviar a crônica ao jornal, percebi que a crônica não precisava ser só sobre os meus fios de cabelo, mas também sobre as relações amorosas. Na tentativa de cuidar do amor, de deixá-lo mais bonito, maior, mais volumoso, erramos, cortamos mais do que precisamos, exageramos no cuidado e o amor não cresce...

Senti que isso dava um brilho diferente para a crônica. E deu.

Minha decisão de não dizer muito sobre isso, mas de encerrar, na última linha do texto, com essa menção, de que "esta crônica sobre cabelos também é um crônica sobre os meus amores", foi uma decisão literária, posso dizer.

É isso que quero compartilhar com vocês hoje, que escrever não é só contar a história. É também decidir como contar a história. E como melhorar a contação. Como dar mais brilho ao texto.

É por isso que escrever é tão gostoso, porque as possibilidades são tantas quando se tem uma história. O que a gente precisa é ter as ferramentas em mãos na hora da escrita. Sentar, escrever a história e depois se divertir um pouco mais com ela, como quem cuida dos cabelos... Mas sem exageros. Sem cortes demais. Sem muitos produtos.

É só o brilho. Com um pouco mais de brilho, o texto ganha outro volume. Como os cabelos...


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