queria escrever um texto
que não fosse texto.
fosse uma espécie de creme
para mãos pele cabelos.
um crème de la crème,
do tipo melhor tê-los
do que não tê-los.
hidratar a vida com palavras,
guardadas em bisnagas,
vendidas numa mega promoção:
leve uma bisnaga para a mocinha,
ganhe outra bisnaga para a emoção.
queria escrever esse texto
que não fosse texto.
fosse um esfoliante
que removesse as células mortas
e ressuscitasse as pessoas vivas.
um esfoliador que servisse
tanto aos homens mais tristes
quanto às mulheres recém viúvas.
como eu queria escrever esse texto
que não fosse texto,
fosse uma coisa além-texto,
com o único pretexto de ser lido.
um texto feio,
mas genericamente lindo.
como eu queria escrever
um texto surpreendente.
mas tudo que me sai agora
é esse cremezinho meloso,
que não consegue espantar
nem as moscas.
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