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Lucão

Diretor de filmes



Eu sonho muito.

 

Além de sonhar todas as noites, também tenho muitos sonhos diferentes em uma noite só. Na noite passada, por exemplo, foram cinco. E enquanto em um eu estava navegando em um oceano dentro de um carro, no seguinte, eu estava pendurado no pescoço de uma girafa. Na noite, ainda teve um clássico, um remake que se repete nos meus sonhos desde pequeno: eu, na rua, entre a multidão, andando pelado, tentando tapar o meu corpo com as mãos.

 

Um festival de cinema, com filmes de todos os gêneros.

 

Desde criança eu sonho muito. E, por isso, há alguns anos, parei de compartilhar as histórias dos sonhos com as pessoas. Pois muitas gostam de interpretar a vida através dos sonhos. Quando conto que sonhei com a família morrendo em um desastre ou com uma namorada mentindo, sempre sobra para mim. Você está com medo, você está inseguro, precisa melhorar sua autoestima e outras coisas piores, elas dizem.

 

Aliás, sobre o sonho clássico, comigo pelado na rua, tampando meus órgãos com as mãos... Será que devo abrir um onlyfans? Me digam.

 

No último sonho desta noite, eu estava dentro de um filme. Justo eu, que adoro filmes. Era um que eu já conhecia. Demorei a entender que eu estava em um filme que eu já sabia de cor o começo e o fim.

 

Então, no sonho, passei a ter medo, pois era um filme perigoso. E eu não estava sozinho, mas com dois dos meus irmãos. Corta. Caminhávamos, conduzidos por outro homem, rumo a um porão de uma casa abandonada. Corta. Chegamos ao subsolo, o local estava cheio de homens suados, alguns sem camisas, com faixas brancas nas mãos e sangue. A cada nova cena, eu reconhecia mais o filme. Corta.

 

Quando nos aproximamos do grupo, me toquei de que deveria fazer alguma. Eu conhecia aquela cena, sabia onde ela ia terminar. Corta.

 

Foi quando eu disse aos irmãos, eu conheço este filme!, mas eles riam de mim, enquanto tiravam suas blusas e se posicionavam um de frente ao outro, em postura de briga. Os outros homens fizeram uma roda ao redor dos irmãos e começaram a gritar, incentivando-os à luta. Foi quando intervi, entrei entre os dois, empurrei cada um para um canto e disse que eles não podiam brigar, eu conhecia este filme. Corta.

 

Arrasteio-os para a escada que ficava no canto do porão, enquanto o grupo se desfazia entre vaias e tristeza. Foi assim que consegui evitar que meus irmãos começassem uma briga fatal. Fiz um final diferente para o filme, pensei. De um jeito sem graça, sem drama, sem ápice e sem surpresas. Mas ao menos eu salvei meus irmãos.

 

Só quando acordei, entendi que estava em um sonho. Pois mesmo que absurdo, é difícil não viver um sonho enquanto o sonhamos. Primeiro, senti um alívio por ter acordado. Depois, uma decepção profunda por ter estragado a história de um filme tão bom.

 

Pois se é verdade que os sonhos nos dizem algo sobre a vida, então preciso acordar de outro sonho, mais antigo, de ser diretor de filmes de cinema. Agora eu sei que não levo jeito.

 

Corta.

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