Ontem eu estava lapidando uma história e me dei de cara com um trecho em que narro uma conversa séria que tive com meu pai sobre o meu trabalho.
Meu pai amava o fato de eu ser escritor, amava a história de eu trabalhar com a arte, amava minha escrita... Mas também tinha lá suas dúvidas. Ele não entendia como funcionava minha vida de escritor, e imaginava que os meus dias eram mais tranquilos que os da maioria. Na verdade, imaginava que eu trabalhava pouco, como muita gente acha sobre quem trabalha com arte no Brasil, que artista trabalha pouco.
Eu sei que ele não queria me ofender quando falava sobre isso. Era o que ele repetia do que ouvia por aí.
Então, há alguns anos, eu escrevi um texto sobre esse episódio. Ontem parei no trecho em que meu irmão mais velho contava para o meu pai a rotina exaustiva que eu tinha quando morava com ele. Falava do meu período de seis meses escrevendo um romance até tarde da noite, e lidando com outros trabalhos que a literatura me exigia, as leituras, os estudos, os cursos que eu já ministrava. Fazia uma sequência de palavras para narrar para o meu pai o meu trabalho diário: ler, escrever, estudar, almoçar, ler, escrever, estudar, tomar banho, jantar, dar cursos, terminar um livro, dormir, acordar, ler, escrever, estudar, responder piadinha do pai no whatsapp... Eu não conseguiria me defender tão bem como fez o meu irmão nessa conversa com o pai.
Ontem, quando reli o texto, me lembrei de como escrever é difícil. E como escrever é bonito.
Foi com carinho que me recordei dos mais de vinte anos que escrevo. Que para escrever melhor, eu leio muito, depois escrevo escrevo escrevo e volto a ler. Estudo, leio mais, converso com pessoas, dou cursos, volto a ler e escrevo escrevo escrevo. Saio de casa, vou ouvir as pessoas, vou viver outras histórias, volto para escrevê-las e alargar meus textos. Ainda assim, não há texto que eu escreva que não precise ser lapidado, melhorado, até ser transformado em literatura. Não há ideia que me venha de imediato, como o meu pai pensava, a não ser as que já estavam passeando pela minha cabeça há alguns anos.
Escrever é difícil. Escrever é bonito. Pois escrever é esse pensar longo, sem pressa. Mas um pensar sempre, trabalhoso. É pensar antes, enquanto leio. É durante, enquanto escrevo. E depois, enquanto reviso e melhoro as palavras, até transformá-las em poemas, crônicas, romances.
Escrever é uma atividade que me melhora desde que comecei a escrever minhas ideias, a desenhar meus caminhos com as palavras e a me encontrar em um lugar mais autoral.
Hoje resolvi escrever esta newsletter para refletir sobre isso, sobre como é bonito escrever. E que talvez só seja uma atividade bonita porque também é difícil. Ela exige de mim, e de quem mais escreve, o pensamento. E pensar é bonito demais.
Parece um elogio a mim mesmo, mas não é. Ainda estou pensando nas autoras e autores que gosto de ler, no sabor que sinto quando estou de frente para uma obra que me faz pensar... E pensar é bonito demais.
Agora, imagina escrever.
Como eu já disse em outro texto, escrever é pensar o pensamento. Ou talvez fique melhor agora assim: escrever é o bonito do bonito.
Flanei outra vez?
Para pensar as belezas de si
Na semana que vem, segunda-feira 24, começa a nova turma do meu curso de crônicas. Para quem quer aprender a pensar sobre si e a escrever a partir das próprias histórias. Não como quem escreve um diário, mas como quem escreve histórias bonitas, alegres ou tristes. Vamos? No “Eu, cronista”, vamos falar sobre a crônica, esse estilo de escrita que dá muita liberdade e força para as nossas ideias. Perde não! Saiba mais aqui e reserve sua vaga > > >
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