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Lucão

Eu calculei e vi que dá


Fiz uma lista de desejos para 2021. E, ao invés de guardá-la em segredo, achei melhor dividi-la com vocês. Pois todos os desejos são, sem exceção, para nós todos.


Meu primeiro desejo é saúde. Que em 2021 superemos a Covid sem economia de dinheiro e de esforços para tirar da situação de risco as pessoas que amamos. Que seja um momento de respeito, que o dinheiro investido na vacinação seja usado para o povo. E que voltemos a abraçar quem mais amamos. Que eu possa reencontrar minha família, falar de perto tomando café da tarde com a mãe e a vó na mesa, e com os irmãos e os tios todos na casa. Depois reencontrar os amigos, prosear na chácara do Carlim ouvindo histórias numa tarde imensa.


Também desejei mais altruísmo, essa palavra feia mas de significado importante. Que possamos pensar no outro com mais respeito. Que as vidas negras realmente importem. Que sejam respeitados os direitos, os espaços e o tempo de cada um. Que as oportunidades não sejam privilégios dos brancos nem dos homens, mas de todos. Que a desigualdade humana histórica seja reparada com ações e afeto. Que as mulheres ocupem cargos maiores e decisivos. Que as minorias - que são maioria - sejam inseridas na sociedade preservando suas identidades e seus direitos. E que essas identidades sejam reconhecidas com a força que elas têm. Que o espaço público seja um lugar para todos, mas cada vez mais para as mulheres e o povo que ainda não pode estar nesse lugar. E que o machismo seja varrido em 2021, sem mais vítimas de feminicídios. Que 2021 seja um ano de todos e todas e todxs.


Também desejo um ano de mais sabedoria, com debates que sejam relevantes para todas as vidas. Que coloquemos em pauta as questões das vidas abandonadas pelo Estado. Que a descriminalização do aborto seja um tema debatido com consciência e não com machismo ou fanatismo religioso. Que a gente entenda a importância do Estado nessas discussões e assim eleja líderes que compreendam, discutam e comandem as mudanças que a sociedade precisa promover. E que seja uma mulher. Que valorizemos a cultura. E que compreendamos que uma só manifestação não é cultura, que cultura é o respeito e a valorização da diversidade de crenças, de histórias e de manifestações artísticas. Que tenhamos líderes que olhem pro nosso passado com consciência, respeito e desejo de reparação das dores, que cicatrize a história com iniciativas que preserve a história do povo oprimido por ditaduras e governos autoritários. Que a nossa arte não seja só preservada como também impulsionada, compreendendo que um povo sem arte é um povo sem voz e sem amor.

Falando em amores, eu desejei mais amores também. Que a gente se ame mais. E que toda forma de amor seja amor. Que a família cresça e deixe de ser só uma crença religiosa. Que todo grupo que se ama, que todo povo que se cuida, que toda gente que seja presente na vida de outra gente seja uma família e tenha os mesmos direitos, inclusive o de amar e ser amado em qualquer lugar.


Confesso que a lista é grande para um ano só. Mas, baseado no tanto de histórias ruins que vivemos em 2020, calculei o tempo e vi que dá.


Basta a gente querer para o outro o que mais deseja para si.

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