top of page
Buscar
Lucão

Fofocas


Na semana passada eu comprei um cavaco. Na semana passada eu me apaixonei.


Ontem, na última aula do curso de crônicas que dou, explicava à turma que um dos elementos mais importantes da escrita da crônica é o foco em uma história só. Contar uma história por vez é o que dá brilho ao texto. Quando o texto conta várias histórias, o leitor se perde. A graça é contar uma história por vez, a historinha, o causo, a prosa... A fofoca.

Eu adoro a fofoca. E acho que literatura é isso, um bocado de fofocas.


Daí vim escrever essa crônica com dois acontecimentos. Ou melhor, com duas fofocas: na semana passada eu comprei um cavaco; na semana passada eu me apaixonei.


Fazia tempo que queria comprar um cavaco. Adoro a música, os instrumentos musicais e, apesar de amar o samba, era um dos únicos gêneros que não tinha aprendido a tocar. Cresci ouvindo samba em casa, com os pais, com os irmãos... Frequento as rodas de samba desde jovem. Comecei a estudar música pequeno. Fiz canto, piano e cordas. Não sou um bom músico, estudo por prazer, não tenho talento nem pretensão profissional. Mas gosto dos instrumentos e tenho até minha pequena coleção: uma guitarra e dois violões. Agora também um cavaco.


Fazia tempo que não me apaixonava. Ao contrário do cavaco, não estava nos planos comprar essa paixão. Se apaixonar não é plano. Paixão não é isso. É um troço que te atropela, onde quer que esteja, na cama, na cozinha passando um café, num boteco tomando um vinho... Paixão não precisa de rua para te acertar de frente. Fui pego assim, de frente, e agora não consigo mais ouvir outro ritmo que não seja a batida acelerada do peito.


Desde que comprei o cavaco, só escuto samba. Montei uma playlist de músicas que pretendo aprender a tocar. Faz uma semana que só escuto essa playlist. Agora mesmo estou em Goiânia, a trabalho, por duas semanas, hospedado na casa do meu irmão, que não aguenta mais escutar meus sambas. A playlist ainda está pequena, repetitiva, previsível. Um saco para quem não está apaixonado. Eu entendo. E ainda trouxe o meu cavaco para estudar. O meu irmão me suporta como nem eu mesmo me suportaria. A pessoa apaixonada é insuportável.


É impossível impedir uma paixão. Desde que me apaixonei, só escuto o peito. Um peito mais cascudo, um peito mais vivido, mas não menos bobo que qualquer outro peito apaixonado. Paixão não faz distinção entre novos e velhos. Todo peito fica besta e infantil quando toca acelerado. E me faz escrever coisas bobas, como essa crônica com duas fofocas banais, que me deixa de saia curta com a turma do curso de ontem. É uma história por vez, é uma história por vez...


Outro dia me peguei escrevendo um poeminho apaixonado, criando frases infantis, tentando rimar ar com amar. Achei tão fofo. Achei tão bobo. Achei tão samba.


Falando em samba, ontem demorei pra dormir, estava assim sei lá, meio passional por dentro... Aí foi que o barraco desabou, nessa que o meu barco se perdeu.

Kommentare


bottom of page