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Lucão

Fotografias de verão


Minha mãe ainda guarda nossas fotos antigas em sua casa.


Quando digo fotos antigas, quero dizer aquelas que vinham com o mês e o ano gravados no canto do papel fotográfico. Fotos reveladas há mais de vinte anos.


Ontem mesmo ela nos enviou por mensagem algumas dessas fotos — as fotos das fotos —, e estão como sempre estiveram, plastificadas em álbuns ou soltas na caixa de sapato, todas em ótimo estado e cheias de histórias.


Vez ou outra peço à minha mãe algumas dessas fotografias para recordar, e ela manda um monte de outras no grupo da família. Imagino ela pegando as caixas no armário, abrindo os álbuns para procurar a que eu pedi, enquanto recorda as histórias que viveu nas outras fotos guardadas.


Ontem ela nos enviou arquivos de uma viagem que sempre fazíamos nas férias, no verão, a um clube de águas termais, numa cidade do interior de Goiás. Fomos muito a esse clube, em várias fases da vida, da infância à juventude. Agora faz tempo que não vamos. A vida adulta levou cada filho para um canto. Hoje seria difícil organizar uma viagem como aquelas que fazíamos. E talvez o clube nem exista mais...


A mãe disse que daria para contar a história dela com o pai a partir das viagens que eles também fizeram ao mesmo clube, do início do namoro ao divórcio. Achei que ficaria tão bonita essa história contada assim, costurada pelas lembranças de uma mesma viagem...


Lembrei de já ter visto uma foto da mãe barriguda nessas águas. Ela de biquíni bege, a pele jovem e bronzeada, a barriga imensa... Parece que estou segurando a foto nas mãos, de tão nítida que é a lembrança. Também tem uma dela com o pai e um casal de amigos, que virou nossa família também. É uma foto antiga, tirada nesse mesmo lugar.


Passamos bons momentos juntos nas águas quentes de Caldas Novas. Temos fotos com 4 anos, depois com 6 ou 7, com 10 e também com 12, no mesmo cenário, o clube, que na época era imenso. Nossa juventude também poderia ser contada através dessas viagens que fizemos juntos com a mãe.


Não nos poupávamos do sol, dá para ver pelas fotos. Também dá para ver pela memória... Lembro que a gente passava o dia mergulhando nas piscinas — tinha uma dezena de piscinas diferentes — e inventando brincadeiras que serviam de pretexto para não sair da água.


Vez ou outra a mãe aparecia para passar mais protetor, chamar para o almoço ou dormir. Só o cuidado da mãe nos tirava das águas quentes.


Na nossa última ida, lembro que eu e meus irmãos, com 12 anos, nos apaixonamos por um grupo de meninas que, como nós, também aproveitavam suas férias de verão. Foi a minha primeira paixão.


Minha mãe ficou preocupada, queria botar limite na história, morria de medo de nos precipitarmos. Talvez tivesse ciúmes também, coisas de mãe. Mas contra o calor da paixão, não há mãe que dê jeito. Foi nessa viagem que dei meu primeiro beijo. Na verdade, uma bitoca, um selinho. Mas, ainda, um beijo.


Só dois anos depois, quando dei o meu segundo beijo, mais molhado e mais quente, aprendi como se esquece uma paixão de verão.


Ou talvez não.

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