A moeda de um euro está na moldura junto à carta que ganhei no aniversário de namoro. A moldura, na prateleira da sala, com os livros que mais gosto. Uma seleção combinada dos livros que me comovem com os que ainda desejo ler. Poucos, mas valiosos, como a moeda de um euro.
Saímos cedo do apartamento onde estávamos hospedados, no centro de Florença. Descemos do quarto por um elevador velho, de estrutura metálica aparente, com as escadas rodeando o equipamento pelos cinco andares do prédio. Abrimos a porta de madeira alta e pesada da entrada do prédio e saímos.
Andamos por algumas quadras, formos pelos caminhos que achávamos mais bonitos, mirando as pontas mais altas das igrejas. Passamos por Duomo. Tomamos nosso primeiro café em Firenze numa cafeteria amarela. Seguimos pelas ruas de prédios baixos. Na parte antiga da cidade, todos os prédios têm as mesmas características: são baixos, de arquitetura medieval, rodeados por igrejas. Cruzamos a ponte Vecchio, numa velocidade muito mais lenta que a dessas linhas. Visitamos a Galleria dele Uffizi.
Muita gente caminha como nós, observado a arquitetura e o rosto do povo, tentando adivinhar quanto tempo tem cada lugar, de onde vem cada pessoa. Demos voltas pelas ruas observando, experimentando e contemplando Florença. Passamos pelo Mercado Central, provamos a porcheta e seguimos.
Pela tarde, voltamos ao nosso prédio, descansamos olhando a vista da ruela pela janela grande do quarto. Dava pra ver a rua, as pessoas e as pequenas varandas que ficavam de frente à janela do apartamento. Tudo cinematograficamente perfeito.
No fim do dia, chegamos à praça da república. De um lado, um músico tocava e cantava blues. Caminhamos ao redor do público. Paramos, ouvimos a música, observamos o povo, a multidão de gente observando gente. Do outro lado da praça, um carrossel ligado, floreado de lâmpadas amarelas pré-pensadas para os casais apaixonados. Batemos nossa foto ali, num abraço apaixonado, com um beijo de quem esquece da foto. E a foto ficou assim, meio verdade, meio cena de filme de amor gravado em Firenzi.
Ficamos por mais de hora nessa praça, esperando o sol ir embora. A praça virou outra com as luzes que foram se acendendo nos prédios, nas lojas, nas ruazinhas ao redor. Ficamos um pouco sem rumo. Pra onde seguir?
Foi quando tirei a moeda de um euro do bolso e propus que a sorte nos levasse. Jogamos a moeda pra cima muitas vezes. Do lado da cara, caminhávamos adiante. Da coroa, virámos para o lado mais interessante. Assim, conhecemos a noite Florentina. Caminhamos por ruas estreitas, de restaurantes de portas bem baixas, cercadas por plantas trepadeiras e flores. Como gostam das flores os florentinos. Andamos por duas ou três horas. Tomamos sorvete numa esquina, sentados no meio-fio.
Depois colocamos no mapa do celular o nosso apartamento e voltamos. Pegamos o elevador antigo, subimos ao andar do apartamento, ao quarto da janela grande, ao descanso de um dia bom em Firenzi.
E essa crônica termina aqui, sem lição de moral nem reflexão. Apenas um passeio guiado por uma moeda de um euro, que agora está na prateleira mais alta, junto com os livros e as histórias que mais amo.
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