Nesse exato momento, estou em um albergue municipal na cidade de Logronho, Espanha. Estou a aproximadamente seiscentos e vinte e dois quilômetros de Santiago de Compostela. Hoje é o meu sétimo dia de caminhada seguida, totalizando aproximadamente duzentos quilômetros de caminhada rumo à cidade de Santiago. São tantas as histórias que já me aconteceram, tantas vidas cruzaram com a minha, que fica difícil compartilhar o que tenho vivido por aqui. Eu não sou religioso, não vim pela fé, mas vim pela crença que aqui iria viver grandes histórias, entrar em contato com meu corpo e minha mente. E assim está acontecendo. No primeiro dia me encontrei com Marc na cidade de Saint Jean Pied Port, na França. Partimos de lá para fazer o caminho. Na primeira caminhada, um trecho maravilhoso e sofrido, com mais de vinte quilômetros de subida. No meio do caminho cruzei com uma mulher da Letônia, que hoje caminha comigo como uma amiga do caminho. Ao final desse dia, nos encontramos em um albergue em Roncesvalles, onde nos juntamos a um grupo de mais quatro ou cinco amigos. Jantamos juntos e dormimos. Os dias seguiram assim, cada dia um amigo chega e outro se vai. No meio do caminho são tantas as pedras, tantas durezas que temos que ultrapassar, que nos abraçarmos é o mínimo de amor que trocamos. Torcemos pelo dia do outro. Queremos saber como estão. Queremos conhecer suas histórias. Sentimos suas dores. Caminhamos juntos por longos períodos. Depois nos separamos por outros longos trechos para caminhamos sozinhos. Seguimos. Paramos. Tomamos um café, almoçamos. Quase nunca sem uma boa companhia. Existem os religiosos, os aventureiros, os espirituais, os gordos, os magros, os velhos, as famílias, mães com filhos, irmãos, amigos, casais. Existem os que são mais resistentes, os que enchem seus pés de bolhas, que torcem seus joelhos, os com inflamações em seu corpo inteiro. Do Brasil, da Espanha, da Letônia, da Nova Zelândia, Nova Zuela, Japão, Coréia, Sudão, Itália, África… um encontro extremo de culturas, de pessoas que não falam a mesma língua mas se entendem no que há de mais universal nesse mundo: o amor. A felicidade é uma coisa bem bonita de se ver por aqui. As pessoas riem para aliviar as dores. São remédios para o corpo e o coração. E as pessoas choram para renovar seus pensamentos, para desinflamar seus corpos, refrescar seus pensamentos… choram de dor, choram porque reconhecem a si mesmos, porque se encontram do jeito mais profundo. Aqui todos estão muito parecidos, com uma mochila, roupas simples, pouca coisa na mochila e muita história para carregar. O caminho está só no começo. Não sei como vou terminar. Tenho dores, saudades… e muita vontade de fazê-lo com todo meu amor. E o amor é um caminho sem volta.
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