Tenho pensado, nesses últimos dias, nas coisas que crianças de dez anos fazem.
Subir em árvore é coisa de criança de dez anos. Subir, ficar de cabeça para baixo pendurado pelos pés, cair e se machucar também. Qual criança de dez anos que não gosta de subir em árvore?
Tem criança que ainda aprende a construir casa na árvore. Criança sem menor talento pra arquitetura, mas com um talento enorme para ser criança, imaginar, sonhar, brincar… lembro quando construí minha primeira casa na árvore, dava vontade de morar, e até sonhava com uma casa de verdade, com móveis, com TV e videogame, tudo em cima de uma imensa árvore.
Outra coisa que criança de dez anos gosta demais é de brincar de pega e pique-esconde. Não falo com tanta certeza das crianças de hoje, mas a criança que fui gostava bastante. Começava a brincar de dia e a brincadeira ia até até tarde da noite. Brincar de pique-esconde no escuro era ainda melhor. E quando me achavam me lembro que não sabia se ficava mais eufórico por ter sido descoberto ou por ter que correr um monte pra me salvar. Isso é coisa que criança de dez anos faz, correr um monte.
Outra coisa que criança de dez anos adora é namorar. Não namorar de dar beijinhos e trocar carícias, não. É de namorar escondido, mas tão escondido, que nem a pessoa que a gente namora sabe. Quem que aos dez anos nunca teve uma namorada na escola? Quem nunca escreveu uma cartinha de amor aos dez anos e jamais entregou? Namorar quando a gente tem dez anos é assim, ingênuo, como as coisas que crianças nessa idade fazem.
Aos dez anos, outra coisa que a gente aprende a fazer é pipa, ou ao menos na minha época era isso que a gente mais aprendia a fazer pra brincar. E gastava uma tarde inteira cortando bambu com os pais ou avós, depois enrolando a linha para montar o esqueleto da pipa com firmeza. Aí, comprava os papeis coloridos e gastava um outro tempão fazendo a arte da pipa, cada uma de um jeito, pra quando subir chamar bastante atenção. E antes de soltá-la ainda tinha outro tempo que a gente gastava fazendo o rabo, ou a rabiola. Soltar a pipa era o de menos. Tinha vezes que a pipa nem subia, de tão caprichada que ficava. Isso é coisa que criança de dez anos deveria fazer mais.
Aos dez anos, uma coisa divertida de fazer é brincar de carrinho. Tem carrinho de todo tipo, normal, à fricção, de controle remoto, mas o melhor era o carrinho de rolimã. A gente gastava boas horas fazendo esse carrinhos pra depois competir na rua, na baixada do bairro. Aquele barulho do carrinho voando no asfalto era adrenalina pura pra uma criança de dez anos de idade.
Agora, uma coisa que eu não acredito que criança de dez anos faz é roubar uma arma com a esperteza de um adulto, depois ainda roubar um carro com a força de um adulto, dirigir o carro com a altura de um adulto, fugir da polícia com a agilidade de um adulto e atirar contra as pessoas com a frieza que tem um adulto. Isso não é coisa que criança de dez anos faz.
Qualquer coisa que não tenha a ver com a ingenuidade que uma criança de dez anos tem, não é coisa de criança. Isso é coisa de adulto.
“Pássaros são sonhos que escapolem das cabeças das crianças”.
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