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Lucão

Quando amo vejo coisas

quando amo vejo coisas.

como uma criança vê fantasmas,

quando amo vejo coisas.

vejo vultos, sombras, silhuetas.

vejo a roupa que se mexe

enquanto você se mexe.

você toca seus cabelos

com as pontas dos dedos

e eu vejo essas coisas todas.

vejo os olhos...

seus olhos têm bordas de céu.

e me lembro da liberdade

que você fala,

ela está nos seus olhos agora.

vejo como você mastiga a comida devagar.

vejo como tem sorte cada grão

que passeia pela sua boca.

vejo como você respira,

como suspira...

quando amo vejo coisas.

já fui ao médico cuidar das coisas

que ando vendo

e nos olhos eu não tenho nada,

além das coisas que ando vendo.

suas coisas estão todas nos meus olhos.

quando amo vejo coisas.

queria eu só ver as coisas

que as crianças veem.

queria eu só ver fantasmas.

queria eu não ver você.

mas quando amo

— e como amo!

vejo coisas.

e nesses dias

ando vendo

coisas demais.

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