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Lucão

Quase nunca eu sei



Uma dúvida comum que normalmente surge nos cursos de escrita é: como eu sei se a ideia do meu texto é uma poesia, uma crônica ou um romance? A resposta é: quase sempre eu não sei. E só começo a saber quando termino o meu texto.

 

Antigamente, quando comecei a escrever, eu escrevia basicamente só poesia. Então toda ideia que surgia era para a escrita de um poema. Depois passei às crônicas no jornal, e as ideias ganharam essa nova possibilidade para mim, de caberem em uma crônica. E quando uma ideia mais larga caiu no meu colo, depois que fiz o Caminho de Compostela pela primeira vez, percebi que não caberia nem em um poema nem em uma crônica. Então escrevi o meu primeiro romance, o “Amores ao Sol” (ed. Planeta). 

 

Depois de anos escrevendo, hoje eu aprendi a olhar as ideias com mais cuidado, para ver onde elas podem caber melhor. Então, quando tenho uma ideia, escrevo-a de forma bruta no papel e gasto um tempo olhando e pensando sobre ela. 

 

Quando percebo que é um poema, começo a lapidar a escrita para melhorar os sons, os sentidos, as graças que um poema precisa ter. Quando a ideia é um pouco mais larga que a de um poema, mas não tão longa quanto um romance, se for autobiográfica, talvez seja melhor numa crônica. E aí tenho um trabalho diferente, de contar uma história e depois lapidar o fraseado, arredondar o fio condutor da história... Agora, se a ideia é ficcional e realmente longa, é para um romance. Então o trabalho é outro, mais demorado, e vai me exigir um ritmo diferente para experimentar os muitos caminhos que a história pode seguir. Para o romance, eu penso dia e noite, durmo mal, acordo de madrugada, escrevo no bloco de notas uma ideia que vai me ajudar a conduzir a história, escrevo, testo, falho, reescrevo… E quando encontro um caminho mais nítido, me sento no computador e fico por oito meses escrevendo sem parar. Foi assim que escrevi o meu novo romance sobre os desajustes familiares, que logo ganha vida em um livro físico. 

 

Conto isso hoje pois ontem pensei que estivesse escrevendo uma crônica, baseada em uma experiência estranha que tive no Caminho de Compostela, em uma cidade fantasma que atravessei. Quando terminei o bruto da história, percebi que na verdade eu estava escrevendo um conto, gênero que pouco escrevi na vida. Não era um romance, porque não tinha a largura que um romance precisa, mas também não era curto nem autobiográfico quanto uma crônica deve ser. Era ficcional, tinha enredo, personagens, um tempo determinado… então era um conto. 

 

Mas eu só soube disso tudo depois que coloquei a ideia no papel.

 

O que quero dizer é que a escrita normalmente vem antes da estrutura. Quando me perguntam: “Como eu sei que tipo de texto uma ideia é?”, eu respondo que não sei, até escrevê-lo. A gente não escreve para caber nas estruturas. Normalmente não é assim que os escritores fazem. As estruturas é que depois passam a servir ao texto. Então, primeiro é preciso escrever livremente, sem pensar em regras ou formas. Apenas crie e desenvolva sua ideia escrevendo. 

 

É no fim que vamos perceber onde a escrita cabe melhor. Na dúvida, quando terminar sua história, pesquise no google sobre os gêneros literários. E veja onde o seu texto se encaixa melhor. Por vezes, sem saber, até brincamos com estruturas que se misturam, como uma crônica poética ou um poema prosaico. Mas não se preocupe com isso até escrever suas ideias. Depois de escritas, encontre os lugares que as recebam bem. 

 

Os nomes dos gêneros literários e das formas já existem há muitos anos. Sua história, ainda não :) Escreva e divirta-se!


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