Primeiro perdi o vô paterno. Depois a vó paterna. Aí foi o vô Miguel. Meu pai. E, por último, a vó Nininha.
Os últimos anos foram mais de perdas do que de ganhos. Esse é o curso ingrato da vida: quanto mais se vive, mais se convive com as perdas. Mais se perde alguém.
É ruim viver para ver as pessoas partirem. Mesmo que eu saiba que só há esse curso, e que ele não muda. Mas qual é o ganho de se perder alguém?
Hoje tirei o dia para sentir as faltas, mais das últimas, as que me fizeram escrever tanto. Eu não queria escrever tanto. Queria estar no quintal do pai, no jardim da vó, no carro do vô, que todos os dias me esperava na porta da escola. E quando eles não estavam, já faziam falta.
Também há uma perda em não poder vibrar com quem ainda vai chegar. Ainda não sei seus nomes, suas graças, suas surpresas. Só posso vibrar com as lembranças das perdas, os malditos ganhos que, no fim, são sempre perdas.
Ganhos malditos, perdas malditas, que agora devo levar numa sacola-saudade.
Uma saudade pesada.
Um troço ruim de carregar.
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