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Lucão

Sem cabimento algum

Tive notícias do céu Que você não ia caber. E foi assim: É mais provável Um camelo passar Pelo buraco de uma agulha Que o seu pai caber no céu. É que o seu pai é muito grande. E quem me disse foram os anjos, Os camelos, os deuses, As agulhas e os orixás. Então liguei para os poetas E gritei: Meu pai precisa de um poema Pra caber. Um poema tipo o céu, Cheio de nuvens E de muito amor. Um poema que falasse Desse amor sem fim. Dessa coisa que os humanos Dizem que foi inventada Pelos deuses, Mas que eu vi ser inventada E depois reinventada Mais de mil e uma vezes Pelo meu pai. E os poetas me disseram: Mas seu pai não vai caber Nesse poema. E eu gritei: Pois cabe sim! Pois cabe sim! Eu vou fazer o meu maior poema Pro meu pai caber. E se o poema ficar curto, Eu vou erguer uma tendinha No quintal desse poema, E as pessoas vão sentar Nesse quintal de sombra fresca Pra se despedir do pai. Vão vir irmãos, esposa, filhos Os amigos mais recentes, Os amigos mais antigos… Os que já se despediram Vão desocupar o céu Só pra se despedir do pai. Certa vez, Meu pai me disse de uma casa Que ele mesmo construiu, Que ela se chamava amor… Uma casinha assim tão grande, Do tamanho de um poema. De um poema assim tão grande, Do tamanho de um amor. Pois cabe sim! Pois cabe sim! Pois ele vai caber no amor. Vou repetir versos de amor Que eu já disse Mais de mil e uma vezes Só pro velho então caber: “Versos de amor Versos de amor Versos de amor Versos de amor”. E vou tecendo Velhos versos Pra fazer mil novos versos Pro poema do meu pai Ficar maior. E é assim que essa casa, Esse poema, Vai caber. Com muito amor e ladainha E ladainha e ladainha… Um poema assim sem fim, Só pra você caber aqui. Então você, Que já não cabe Nesse céu que é tão grande, Dentro desse meu poema Vai caber? E o poema Vai finalizando assim: Você, meu pai, Um ser tão grande, Nos deixou nessa manhã sem cabimento algum.

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