A nova sala de TV da Câmara Municipal de Anápolis-GO vai levar o nome do meu pai. Soube disso pelas redes.
Um dos vereadores da Câmara postou a notícia. Minha madrasta repostou e me marcou. A matéria era clara e bonita: o pai, já falecido, ia dar nome à nova sala de TV da Câmara, que a partir daquele dia passaria a se chamar “Sala de TV Jornalista Eurípedes Cândido de Souza”. Uma homenagem justa, merecida, ao primeiro profissional de TV da cidade. E ao grande cara que o pai foi.
O “véio” era apaixonado pela profissão. Adorava ser comunicador, falar na TV e nas rádios. Inclusive, passou por todas as rádios de Anápolis. Porque era bom, porque as rádios o queriam. O cara era foda!
Outra coisa que me lembrei quando li a notícia é que o pai era um emocionado. Isso eu já contei outra vez. Podiam dizer que o pai não tinha a bagagem para ser um jornalista renomado, trabalhar em rede nacional ou em um grande grupo de notícias. Faltava a ele o estudo, a base teórica, os fundamentos da profissão. Mas não podiam dizer que o pai não se emocionava. E isso era a assinatura do véio. Não dava uma notícia sem usar o peito. Não lia um acontecimento comovente sem usar as lágrimas. Não conseguia. O pai chorava, era uma manteiga derretida, eu já disse. E era bonito ver o pai chorando. Aliás, estou chorando agora de saudade do choro dele.
Nós, os filhos, passamos o dia celebrando a notícia da homenagem. E recebendo o carinho da turma que conheceu o pai. Eram coisas bonitas, que eu já disse aqui: “Justa homenagem”, “O Candinho merece”, “Saudade do Eurípedes”. O povo também o amava. E isso era outra coisa que o pai gostava, de ser elogiado pelo trabalho que fazia. Era sempre notado na rua enquanto caminhava, o chamavam para comentar alguma notícia que ele havia dado ou simplesmente para dizer que o adoravam. Por isso o Candinho era vaidoso. Não essa vaidade de hoje, mas a de se preparar para receber o afeto. E de recebê-lo com alegria, com os olhos apertados, como quando a gente ri demais e espreme as bochechas para cima até sufocar os olhos. Reparei que eu faço a mesma coisa. O povo diz que eu rio com os olhos. E agora eu sei que eu rio com o pai.
Fiquei pensando muito quando li a notícia. Passei o dia assim, recordando... Até me tocar de outra coisa: o pai ia amar receber essa homenagem em vida. Na verdade, conhecendo o véio, ele não ia aguentar. Ia chorar o dia todo. E nos ligar e publicar nas redes e contar isso repetidamente nos encontros com os amigos. E se algum dia brigássemos, por qualquer motivo, ele usaria isso a seu favor e diria “Me respeite! Eu tenho uma sala de TV com o meu nome!”, e a briga cessaria com essa graça.
O pai merecia essa homenagem em vida. Ele seria a pessoa mais certa a ser homenageada, a que mais faria jus à placa na sala de TV. Ele agradeceria a todos, e mostraria a todos a homenagem. Falaria dela na rádio, e a sala seria uma grande sala ocupada, todos os dias, por muita gente. E a sala, mesmo não sendo dele, seria.
Fiquei refletindo sobre isso por todo o dia: por que não homenageamos as pessoas quando ainda estão vivas? Por que precisam morrer para ser lembradas? Por que fazemos isso? Por quê?
Que homenagem mais bonita! Que homenagem mais injusta!
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