Quem nunca ouviu a ideia de que é na dor que se cria melhor? Ou que é no aperto do prazo que se cria mais?
Eu já ouvi e também já disse algumas vezes essas frases. Mas em contextos específicos, como o de trabalhos que demandam prazos; ou em alguns casos da criação artística.
Um poeta, por exemplo, para escrever sobre sentimentos profundos, com certeza terá mais “facilidade” para escrever se conhecer os sentimentos profundos. Por isso, um poeta com dor terá mais chance de escrever bem sobre os sentimentos do que um poeta sem dor alguma (ele existe?). E, sim, um publicitário que precisa entregar um trabalho com prazo definido, possivelmente, também se esforçará mais para criar e entregar seu trabalho no prazo.
Estas são as excessões que não são bem excessões. Pois também conheço muitos casos de poetas com dores que não conseguem escrever bem, porque escrever demanda saber escrever; e tantos outros casos de criativos fracassando nos minutos finais do prazo.
Mas, pelo contrário, conheço muitas pessoas emperradas na criação pois levam a sério demais a questão do erro e do acerto na hora de escrever. Aliás, as palavras acerto e erro nem deveriam ser usadas dentro do mesmo processo. Criação não combina com acerto. Criação é erro puro. É um processo de encadeamento de ideias absurdas que, ao final, nos levam a uma proposta mais redonda (ou várias). E essa proposta, mais do que um acerto, é um erro que, no fim, mudou de nome. Toda criação é fruto de um erro, ou de uma tentativa, ou de um improviso — como quiserem chamar.
Mais do que acertar, quem cria quer experimentar mais, quer testar mais para encontrar novos caminhos e formas para continuar criando com empolgação. Quem cria quer essa leveza. E ela só acontece sem a necessidade do acerto. Grandes ideias nasceram assim. O Viagra, por exemplo, foi descoberto por conta de um erro. Cientistas buscavam um remédio que tratasse a angina. Quando perceberam que o remédio, ao invés de aumentar o fluxo de sangue para o coração, bombeava sangue para o outro lado, inventaram o Viagra, uma das ideias mais lucrativas do mundo.
Ou seja, é preciso aprender a errar para criar de verdade. Isso não é coisa da minha cabeça, é coisa da cabeça de todos :) Quanto mais descontraído é o processo, melhor a criação. As crianças nos provam isso todos os dias, enquanto brincam de errar sem a necessidade do acerto, pois elas ainda não conhecem o certo e o errado. Quem brinca de tentar brincar assim o tempo todo também são os poetas, que miram nas crianças para escrever com mais liberdade.
Enfim, fique com essa dica para escrever de forma mais criativa: erre muito, erre sempre! Não pare de errar até tomar gosto pelo erro.
Estamos acertados?
Foi assim que nasceu a Oficina do Erro
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