Desde pequeno, corre a história lá em casa que eu tenho medo de cachorro. Apesar de não ser verdade, de tanto meus irmãos insistirem, acabei virando o medroso. Pode ser que um dia, brincando na rua, eu tenha fugido de algum pastor alemão raivoso, um pitbull faminto ou um pinscher escandaloso. E pode ser que meus irmãos tenham visto essa cena e me julgado por isso. Pode ser.
Mas também nunca fui muito de gostar de animais, caninos ou felinos (e isso inclui os leopardos, as onças-pintadas e os leões). Na verdade, não é falta de gostar, é preguiça de cuidar, de dar atenção, principalmente às onças-pintadas, que exigem atenção redobrada. Sou meio preguiçoso para isso mesmo. Já até fiz uma ode à preguiça nesse jornal. Gasto bastante energia com as coisas que tenho paixão, como a leitura, a escrita, a publicidade, música, viagem… cuidar de animal nunca foi uma paixão. Mas a vida dá voltas e, numa delas, voltou com um cachorro pra mim. Moro em apartamento e isso sempre funcionou como desculpa para não ter um canino. De repente, como acontece com as pessoas que viram papais, me bateu um instinto criador e decidi ir à feira comprar um. A escolha foi feita com muito cuidado por mim e minha esposa, para que ele se encaixasse no nosso estilo de vida. Apesar de, na prática, ser o contrário. Nos encantamos por uma oferta, tinha até pedigree, uma espécie de identidade que garante a qualidade da raça. Levamos, mas não antes de pechinchar e passar em 3x sem juros no cartão. O serzinho tinha pouco mais de um mês de vida, mal parava em pé. Já me senti um pouco enganado por ele não me lamber, me derrubar no chão, nem correr atrás de mim esvoaçando seus pelos em câmera lenta. Ainda assim reservamos um canto agradável para ele, compramos ração, brinquedos, petiscos e uma cama bem confortável. Minha tristeza foi vê-lo dormir no chão. Tivesse comprado o chão, deitava na cama.
As primeiras noites foram difíceis. Eu mal conseguia dormir, preocupado com a fofurinha. Será que ele estava respirando? Tá muito frio? E eu fechava e abria as janelas todas vez que ele se mexia. Tudo era motivo pra me levantar e ir ver nosso filho. Ops! Eu disse filho? Coisa mais boba chamar cachorro de filho… Chora pra sair da casinha, chora pra ficar perto de você. Já aprendeu a andar, correr e está na fase de pular, coisa mais bonitinha. Outro dia levamos para tomar as vacinas… sofri. Na volta, todo mole e com febre, deitou sobre as minhas mãos e capotou. Achei que tivesse morrido. Falei com a veterinária, que me indicou dipirona. Tomei, mas a preocupação não passou. De repente o pequeno acordou todo animado. Que alívio! Já tem um mês que ele chegou e ainda acordo às madrugadas para ver se está tudo bem. Às vezes brigo e até me estresso um pouco quando ele faz xixi ou cocô no lugar errado. Limpo, dou banho, brinco… Confesso que não é fácil cuidar de cachorro, mas tem valido a pena. Nosso menino chama Francisco e acho que eu tô de Chico.
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